O crédito nos permite construir o presente à custa do futuro. Baseia-se no pressuposto de que nossos recursos futuros serão muito mais abundantes do que nossos recursos presentes. Se pudemos construir coisas no presente usando receitas futuras, abre-se diante de nós uma série de novas oportunidades maravilhosas.
Yuval Noah Harari – Homo Deus
Enquanto as startups avançam em novas tecnologias e levam consigo a inovação como premissa, os bancos permaneciam os mesmos. Alguns com maior grau de avanço, dependendo da região de atuação. Cada mercado é bem diferente em termos de maturidade, então podemos notar diferentes estágios de inovação nos EUA, América do Sul e Europa.
Onde quer que estejam, todos estão passando por uma transformação que tem em comum facilitar as integrações do banco com novas tecnologias e nem por isto deixarem de ser seguros. Estamos vivendo uma era em que a tecnologia dita as regras, e não uma grande instituição financeira. Os bancos precisam abrir mais suas fronteiras e se comunicarem mais entre si, fazendo com que no fim o usuário final seja o maior beneficiado disto.
Open Banking e PSD2
Estas são as duas palavras da vez quando se fala em bancos do futuro, pois são duas medidas responsáveis por uma sacudida nas instituições financeiras. O Open Banking é uma diretriz acordada pelo Reino Unido para prover através de API’s acesso a contas bancárias com consentimento do usuário, para que seja possível criar aplicativos e integrações que antes não era possível, pois o acesso as transações do usuários eram restritas ao banco em questão. Com o Open Banking em vigor, empresas terceiras podem criar diversos serviços e automações que permitem soluções digitais financeiras não imaginadas anteriormente, como aplicativos que conectam em múltiplas contas para oferecer soluções e facilidades ao usuário.
O PSD2 é a sigla para Revised Payment Service Directive, que estabelece algo similar ao Open Banking, mas neste caso já é uma diretriz acordada pela União Européia.
API’s e Gateways
Poderia parecer óbvio este post se levarmos em consideração nossa expectativa como amantes da tecnologia: serviços descentralizados e obtenção de dados via API. Esta peça chave que vem ocorrendo em muitos mercados possibilitaram tecnologias como marketplaces e outros serviços que o advento da API possibilitou. Mas se você reparar bem, com os bancos isto não aconteceu da mesma forma. Por outro lado não ficamos restritos, pois plataformas de pagamento fizeram este meio de campo e assim vimos várias startups que hoje são gigantes, como Stripe e Paypal para realização de transações como pagamento via cartão de crédito e transferência bancária facilitada.
No entanto, os bancos permaneciam parados no tempo e resistindo a inovação proporcionada nas estruturas de software como serviço e usuários como o centro das atenções. Com isto, há pouco tempo os bancos não possuíam API’s para que plataformas pudessem conectar diretamente nas contas, e cada banco lançava sua solução. Só que agora, com algumas API’s em funcionamento na Europa e EUA, podemos conectar via API em contas como qualquer outra para efetuar pagamento, acessar dados e juntamente com Machine Learning e Inteligência Artificial podemos dar uma experiência com serviços de finanças nunca antes imaginada.
São apps que dizem o quanto você gastou, enquanto outras podem otimizar seu dinheiro. Isto é só o começo de uma revolução das API’s que colocam os bancos como serviço e outras empresas e startups como o responsável por proporcionar soluções focadas na experiência dos usuários, assim temos a multiplicação das fintechs.
A multiplicação das fintechs
As fintechs, startups que não necessariamente tem na sua essência um banco, mas que trabalham com soluções financeiras e precisam de um banco para operar, são as mais beneficiadas com a abertura das APIs. Isto porque elas podem atuar no mercado sem necessariamente passar pelo processo de se tornar um banco, que em muitos países é bem burocrático e complicado, e nem precisam de infraestrutura para se manter como bancos. Elas apenas precisam de suas idéias frescas e com o consentimento de seus usuários, elas poderão fazer uso da API e se conectarem com os bancos.
Muitos bancos já tornaram suas API’s disponíveis, como a dinamarquesa Saxo Bank, e Capital One, na Inglaterra.
As fintechs são o motor da inovação nesta nova era dos bancos. Com a pressão das fintechs por soluções, as instituições financeiras precisam por bem ou por mal, se tornarem mais ágeis. Muitos bancos são hesitantes em tentar novos modelos de negócios.
China, um mercado anos luz a frente
Enquanto nos mercados do ocidente buscamos um acordo para tornar as integrações mais transparentes, a China está anos luz a frente. Por lá, as apps já estão totalmente integradas e gigantes de tecnologia como Alipay se tornaram também grandes instituições financeiras e temos um exemplo de como o banco passou a exercer um papel secundário e se reinventou em termos de modelo de negócio.
E no Brasil?
No Brasil, fintechs como o Nubank se destacaram e conseguiram romper barreiras, mas teve que se tornar uma instituição financeira depois de uma longa luta para tal. Apesar do destaque e de ter sido comprada por uma gigante chinesa, a Tecent, os bancos ainda estão muito atrás do que é possível fazer com os bancos abertos. Temos iniciativas como Tokpag do Itaú e outros, mas podemos notar um “egoísmo” nas soluções adotadas por cada banco, que disputam entre si por clientes, ao invés de criar soluções integradas em que a atuação do banco seja mais transparente, permitindo aos usuários realizarem transações sem nenhuma barreira ou preocupação se sou cliente do banco x ou y.
Casos reais
Aqui estão alguns casos de sucesso nos mercados da Europa e EUA.